segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Kamikazes altruístas



Trypanosoma brucei, agente causador da doença do sono, é conhecido por sua capacidade de se esquivar do ataque do sistema imune, o que torna o desenvolvimento de uma vacina um processo difícil.
Agora, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em colaboração com as universidades Livre de Bruxelas (ULB), na Bélgica, e Ludwig Maximilians, de Munique, na Alemanha, descobriram uma nova ferramenta do parasita para garantir o sucesso da infecção: uma proteína chamada adenilato-ciclase.
Ela permite que os primeiros tripanossomas da infecção, enquanto são destruídos, envenenem a primeira onda de células da resposta imune, garantindo o sucesso dos parasitas que vêm depois. A descoberta foi publicada na revista científica norte-americana Science.
Além disso, esse mal não é um problema apenas para a população – é uma questão agropecuária também. Uma subespécie desse tripanossoma, o Trypanosoma brucei brucei, ataca o gado, gerando a doença chamada nagana. “As estimativas indicam que se pudéssemos eliminar esse mal, a produção de bovinos na região aumentaria em cinco vezes”, revela o biólogo belga Didier Salmon, cocoordenador da pesquisa e chefe do Laboratório de Biologia Molecular e Celular de Tripanossomatídeos da UFRJ. A doença do sono é transmitida pela mosca tsé-tsé e ameaça mais de 60 milhões de pessoas em 36 países da África subsaariana. Embora o número de pessoas infectadas esteja diminuindo, 48 mil pessoas morreram devido à doença só em 2008 e sempre há risco de epidemia.

Um problema para combater a doença do sono é o ‘casaco’ de proteínas que envolve o tripanossoma. Chamadas de glicoproteínas variáveis de superfície (VSG, na sigla em inglês), elas envolvem totalmente o parasita, impedindo que o sistema imunológico reconheça estruturas importantes do invasor (antígenos não variáveis), contra as quais uma resposta imune seria bastante eficiente. Incapazes de ter acesso a esses antígenos, os mecanismos imunitários reconhecem e atacam essas VSGs.
No entanto, cerca de 0,01% dos tripanossomas expressa essas proteínas com uma ligeira diferença, o que os torna resistentes ao ataque do sistema imune. “Assim, uma determinada resposta destrói os parasitas para a qual ela foi programada, mas aqueles que tinham VSGs diferentes sobrevivem e se multiplicam. Quando uma nova resposta é produzida contra estes, outro 0,01% da população será distinto e sobreviverá. E assim por diante”, conta Salmon, para quem mesmo a capacidade do corpo humano de produzir 10 trilhões de variantes de anticorpos é insuficiente para lidar com as VSGs. “Esse escudo de proteção também torna impossível o desenvolvimento de uma vacina”, acrescenta

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Alan Sales: conhecido por alguns como Saturno, 18 anos, se prepara para o Enem - fará Bacharelado em Biologia. Desde criança sempre foi fascinado pelo céu... Gosta de ler, escrever, ouvir música. Além disso, pretende fazer letras no futuro para seguir com a carreira de escritor, já que no momento seu maior projeto é o seu livro que surge aos poucos.



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